Política
Os recursos públicos da Câmara Municipal de São Paulo foram utilizados em eventos organizados pela Associação Vitória em Cristo, presidida pelo pastor Silas Malafaia.
O vereador Gilberto Nascimento Jr. (PL-SP) destinou R$ 478 mil em emendas parlamentares para a infraestrutura de três eventos realizados em 2023 na Avenida Paulista. Documentos obtidos pelo UOL e confirmados pela Secretaria Municipal de Turismo indicam que o ao todo teve gastos com aluguel de banheiros químicos, ambulâncias, grades de segurança e torres de observação, com valores variando entre R$ 142 mil e R$ 190 mil, dependendo do evento.
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, os pagamentos foram realizados como “apoio logístico a eventos públicos”, sem esclarecer a ligação entre os repasses e a associação de Malafaia. Gilberto Nascimento Jr., filho do deputado federal Gilberto Nascimento (PSD-SP), é um aliado do pastor, uma figura proeminente na bancada evangélica do país. Ele está em seu terceiro mandato na Câmara Municipal e foi secretário de Desenvolvimento Social no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) entre 2023 e 2024.
Os eventos promovidos com o apoio das emendas abordaram temas como a defesa da anistia para investigados nos atos de 8 de janeiro e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em algumas ocasiões, cartazes e faixas de apoio a pessoas condenadas por participação nos ataques a Brasília foram exibidos.
O que diz Silas Malafaia
O pastor Silas Malafaia negou que a Associação Vitória em Cristo tenha recebido valores de emendas parlamentares. Ele afirmou que a AVEC apenas cedeu seu nome institucional para os eventos, mas não utilizou recursos públicos. “Nenhum centavo de político foi usado nesses eventos. As manifestações foram organizadas por cidadãos, com recursos próprios e dentro da legalidade”, declarou.
Essa afirmativa contrasta com uma declaração anterior de Malafaia, que, em fevereiro de 2024, mencionou que a associação pagaria parte dos custos de um dos eventos, mas depois voltou atrás, reafirmando que o financiamento foi totalmente privado.
O que diz a Prefeitura
A Prefeitura de São Paulo confirmou que os recursos foram repassados pela Secretaria de Turismo e destinados à estrutura e segurança dos eventos, sem vínculo com partidos ou entidades religiosas. “A função do município é garantir apoio logístico e segurança pública durante eventos de grande porte, independentemente de sua natureza ou linha política”, afirma a administração municipal.
Presença política e discurso
Os eventos contaram com a presença de figuras públicas como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o governador Romeu Zema (MG). Durante os discursos, críticas foram feitas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, além de apelos para fortalecer a base bolsonarista no Congresso Nacional em 2026. No ato de 29 de junho, Bolsonaro mencionou que o objetivo era “eleger 50% do Congresso” e caracterizou o movimento como uma “reação popular pacífica”. Malafaia aproveitou a oportunidade para reivindicar o impeachment de ministros do Supremo.

