Recentemente, perfis religiosos e páginas de profecias começaram a divulgar que Daniel Mastral “avisou” sobre um objeto vindo do céu que seria revelado em 2025, gerando alarme mundial. Essa informação está sendo conectada ao cometa 3I/ATLAS, que vem recebendo monitoramento da NASA e outras agências espaciais desde julho de 2025.
Conforme a narrativa que circula, antes de falecer, Mastral teria afirmado que “algo no céu, proveniente de fora, deixaria o mundo em alerta” e que seria “um dos sinais do fim dos tempos”. Essa frase está sendo compartilhada em vídeos editados, sem data, com vozes narrativas e sem apresentar o contexto completo.
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Essa narrativa tenta associar o suposto “algo no céu” ao 3I/ATLAS, um cometa que, segundo a NASA, é originário de fora do Sistema Solar e possui uma composição incomum, rica em dióxido de carbono, chamando a atenção de astrônomos globalmente.
No entanto, essa conexão falha ao considerarmos três aspectos objetivos: cronologia, conteúdos e linguagem.
1. A cronologia não confere
Daniel Mastral foi encontrado morto no dia 4 de agosto de 2024, em Barueri (SP), aos 57 anos, conforme o registro policial da Polícia Civil de São Paulo e a imprensa.
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O cometa 3I/ATLAS, por outro lado, só foi descoberto em 1º de julho de 2025, quase um ano após a morte de Mastral. Sua detecção ocorreu por meio do sistema ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), apoiado pela NASA, em um observatório no Chile. A NASA confirmou que se trata de um cometa interestelar — ou seja, um objeto que não se origina em nosso Sistema Solar — e designou-o oficialmente como “3I/ATLAS”, sendo o terceiro objeto interestelar já observado.
Isso significa que qualquer vídeo afirmando que “Mastral falou sobre o 3I/ATLAS antes de morrer” ignora datas fundamentais. Ele não poderia ter mencionado um objeto que só foi formalmente detectado em 2025.
2. Ele se referiu a “sinais no céu”, mas não mencionou um cometa externo ao Sistema Solar
É verdade que Daniel Mastral associava eventos astronômicos raros, como eclipses e alinhamentos, a uma interpretação profética sobre o “fim dos tempos”. Em algumas de suas declarações, ele comentou sobre sinais “vindo do céu” que indicariam um período de alerta espiritual e de instabilidade. Esse tipo de linguagem está presente em suas transmissões ao vivo, podcasts e entrevistas anteriores à sua morte.
Contudo, dois pontos são essenciais:
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Ele não mencionou “um cometa vindo de fora do Sistema Solar em 2025”.
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Ele não se referiu ao “3I/ATLAS” nem descreveu um objeto que pudesse ser identificado como tal.
Ou seja: o trecho “algo no céu vai aparecer” é vago e baseado em interpretação bíblica (sinais nos céus antes do fim). A conexão com “isso é o 3I/ATLAS” foi criada posteriormente, por seus seguidores. Isso altera a relevância da afirmação.
3. O 3I/ATLAS recebeu atenção por ser um objeto raro e peculiar
O 3I/ATLAS não é um cometa comum. Investigações iniciais indicam que ele possui uma coma rica em dióxido de carbono (CO₂), com uma proporção de CO₂ superior à da água — algo descrito por cientistas como “nunca visto em cometas”. Essa composição incomum despertou grande interesse no meio científico.
Além disso, por ser um objeto de origem fora do Sistema Solar e seguir uma trajetória hiperbólica, redes de defesa planetária implementaram um monitoramento coordenado para mapear sua órbita com maior precisão. Isso gerou manchetes com termos como “alerta global”, “protocolo de defesa planetária” e “exercício internacional”.
Esse tipo de cobertura — “objeto misterioso vindo de fora”, “NASA em alerta”, “composição inédita” — foi apropriado por criadores de conteúdo religioso/apocalíptico, vinculando-o a declarações antigas de Mastral e criando a ilusão de cumprimento profético.
Na verdade, o que ocorre é um uso de um evento astronômico real para reforçar uma narrativa espiritual já existente. Não se trata de uma previsão direta, mas de uma interpretação retroativa.
4. A mensagem atual ignora um aspecto que Mastral enfatizava: seu foco era geopolítico, não astronômico
Nos últimos meses de sua vida, Daniel Mastral destacou três pontos específicos:
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Aumento de tensões envolvendo Israel e potências internacionais.
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Uma promessa de acordo de paz apresentado como “histórico”, especialmente no Oriente Médio.
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A ascensão de uma liderança global com discurso religioso e político unificado, associada às profecias sobre o Anticristo e o falso profeta.
Portanto, sua ênfase final não era que “um corpo celeste vai surgir e isso mudará tudo de imediato”, mas sim sobre “um ciclo de guerra, uma paz ofertada como solução e a consolidação do poder global”.
Isso é relevante porque, atualmente, esse contexto geopolítico está sendo substituído por uma narrativa de “profecia espacial oculta”, que não reflete o foco central que ele defendeu em vida.
5. O que é verdadeiro e o que é falso
Verdadeiro:
• Daniel Mastral mencionava “sinais no céu” e interpretava fenômenos astronômicos raros como parte de um relógio profético.
• Existe um cometa interestelar extremamente raro, o 3I/ATLAS, vindo de fora do Sistema Solar, descoberto em julho de 2025 e monitorado pela NASA.
• O 3I/ATLAS apresenta características incomuns e está sendo observado com alta prioridade científica.
Falso (ou distorcido):
• A afirmação de que Daniel Mastral “previu o 3I/ATLAS”. Ele não se referiu ao cometa pelo nome nem descreveu características específicas.
• A ideia de que Mastral mencionou esse cometa “antes de falecer”. O 3I/ATLAS foi detectado quase um ano após sua morte. As datas não conferem.
• A sugestão de que suas palavras são uma “prova” de que ele sabia sobre a chegada desse objeto. O que existe é uma interpretação posterior feita por seguidores, e não uma profecia registrada.

