Francisco de Assis Pereira da Costa e Silva e Maria dos Aflitos Silva enfrentarão 24 acusações relacionadas a três eventos de envenenamento que ocorreram entre 2024 e 2025.
Por Redação • Publicado em 28/10/2025 às 09h15
O juiz Willmann Izac Ramos Santos, da 1ª Vara Criminal de Parnaíba (PI), determinou nesta terça-feira (21) que Francisco de Assis Pereira da Costa e Silva e Maria dos Aflitos Silva sejam levados a júri popular, sendo acusados de envenenar 10 pessoas — incluindo oito familiares, uma vizinha e o filho dela. A decisão confirma a prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, além de manter a prisão preventiva do casal, detido desde janeiro de 2025.
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Piauí (MPPI), os envenenamentos aconteceram em três ocasiões: 22 de agosto de 2024, 1º de janeiro de 2025 e 22 de janeiro de 2025. Em todos os casos, foi utilizada uma substância tóxica à base de terbufós — similar a um veneno conhecido como “chumbinho” — misturada em bebidas e alimentos das vítimas. Oito pessoas faleceram; duas sobreviveram após hospitalização. Francisco de Assis, identificado nas investigações como um dos principais envolvidos, era membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Piauí.
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Com a decisão, os réus enfrentarão um total de 24 crimes. Para o magistrado, cabe ao Tribunal do Júri, responsável por julgar crimes dolosos contra a vida, avaliar as teses apresentadas pela acusação e defesa, com base nos laudos periciais e depoimentos coletados.
Cronologia dos Envenenamentos
Segundo o MPPI, o primeiro incidente ocorreu em 22 de agosto de 2024, quando Ulisses Gabriel da Silva (8) e João Miguel da Silva (7) beberam suco contaminado e faleceram. Na época, a vizinha Lucélia Maria chegou a ser presa como suspeita, mas negou envolvimento e, posteriormente, foi absolvida pela Justiça. Após a revelação dos laudos, os familiares expressaram alívio: “Alegre porque apareceu a verdade”, disse a vizinha inocentada.
O segundo envenenamento ocorreu em 1º de janeiro de 2025, quando um arroz foi contaminado e consumido por nove pessoas. Cinco delas faleceram — Manoel Leandro da Silva, Igno Davi da Silva, Maria Lauane Fontinele Lopes Silva, Francisca Maria da Silva e Maria Gabriele da Silva. Outras três vítimas — uma adolescente de 17 anos, um menino de 11 (filho de Maria Jocilene) e a própria Maria Jocilene da Silva — foram hospitalizadas e receberam alta. Francisco de Assis também comeu o alimento, foi internado e, após a alta, acabou preso. A polícia relata que ele mudou suas versões sobre os fatos.
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O terceiro incidente aconteceu em 22 de janeiro de 2025. A acusação sustenta que Maria dos Aflitos adicionou a mesma substância tóxica em um café consumido por Maria Jocilene da Silva — ex-nora e vizinha do casal. Após o primeiro envenenamento no dia 1º, Maria Jocilene passou mal novamente no dia 22 e veio a falecer. O filho dela, de 11 anos, que também tinha sido intoxicado no episódio do arroz, sobreviveu.
Acusações dos Réus no Júri
Conforme decisão, Francisco de Assis Pereira da Costa e Silva é acusado de 12 crimes:
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Quatro homicídios qualificados;
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Três feminicídios majorados;
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Três tentativas (dois feminicídios majorados tentados e um homicídio qualificado tentado);
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Fraude processual;
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Denunciação caluniosa (por supostamente tentar incriminar uma vizinha).
Por sua vez, Maria dos Aflitos Silva também enfrentará 12 acusações:
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Quatro homicídios qualificados;
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Quatro feminicídios majorados;
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Três tentativas (dois feminicídios majorados tentados e um homicídio qualificado tentado);
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Denunciação caluniosa.
Embora as acusações se refiram a 10 vítimas afetadas pelo envenenamento, o MPPI acredita que uma delas foi alvo de uma tentativa de homicídio seguida de homicídio consumado, justificando a soma dos 24 crimes atribuídos ao casal.
Vítimas conforme a denúncia (com óbitos e sobreviventes):
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Manoel Leandro da Silva (18) – morto;
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Francisca Maria da Silva (32) – morta;
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Ulisses Gabriel da Silva (8) – morto;
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João Miguel da Silva (7) – morto;
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Maria Gabriele da Silva (4) – morta;
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Lauane da Silva (3) – morta;
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Igno Davi da Silva (1 ano e 8 meses) – morto;
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Maria Jocilene da Silva (32) – faleceu após novo envenenamento em 22/1/2025;
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Menino de 11 anos (filho de Maria Jocilene) – sobreviveu;
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Adolescente de 17 anos (irmã de Manoel e Francisca Maria) – sobreviveu.
Os laudos periciais detectaram vestígios de terbufós nas vísceras das vítimas e nos alimentos coletados, corroborando a teoria de intoxicação por agente organofosforado. A decisão judicial também menciona a presença de indícios de denunciação caluniosa, devido à tentativa de atribuir os crimes a uma vizinha.
Com a aceitação da denúncia, o processo avança para a fase de instrução em plenário do Júri, onde jurados ouvirão testemunhas, peritos, além da acusação e defesa antes da votação dos quesitos. Até lá, o casal permanecerá preso preventivamente.

