Contrariando a opinião predominante entre os conservadores, o pastor e deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) descreveu a operação policial realizada na terça-feira, 28 de outubro, nos complexos do Alemão e da Penha, como um “ato de execução”, responsabilizando diretamente o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
A operação, que resultou em mais de uma centena de mortes, dezenas de prisões e mais de 90 fuzis apreendidos, além de substâncias ilícitas, é considerada a mais mortal da história do país. A Polícia do Rio, no entanto, informou que apenas quatro das mortes foram de agentes de segurança, e, portanto, pessoas inocentes; as demais seriam de membros do Comando Vermelho.
Otoni de Paula afirmou que “é evidente que os policiais tinham liberdade para executar, pois ações dessa magnitude e gravidade não acontecem sem que os agentes se sintam respaldados por alguma ordem do governador. Algo como ‘façam o que têm que fazer’”.
Sem mencionar a grande quantidade de armamentos de guerra apreendidos e os vídeos dos criminosos divulgados pela Polícia, o pastor, que recentemente adotou uma postura favorável a Lula, criticou a abordagem utilizada pelas forças de segurança.
Referindo-se à estratégia policial de transferir o confronto para uma área de vegetação na Serra da Misericórdia, que foi chamada de “muro de proteção”, Otoni de Paula declarou: “O que chamaram de ‘muro de proteção’ é, na verdade, o muro da morte. Levaram os criminosos — e não sei se existiam inocentes na área — para um ato de execução”.
Por sua vez, o governador Cláudio Castro defendeu a ação, afirmando que o objetivo era “minimizar os impactos” sobre a população.
Membros da igreja?
Durante uma sessão da Câmara dos Deputados na quarta-feira, 29 de outubro, Otoni de Paula relatou de maneira emotiva que pelo menos quatro jovens vinculados à sua igreja foram mortos na operação no Rio de Janeiro.
Ele atribuiu essas mortes ao racismo. “Falo como pastor. E não sou um pastor progressista. Apenas de membros da minha igreja, sei que quatro morreram. Meninos que nunca portaram fuzis, mas que estão sendo contados como se fossem bandidos”, afirmou.
Otoni de Paula também expressou preocupação com a segurança de um de seus filhos, que atua em comunidades. “É fácil para quem não conhece a realidade das favelas subir à tribuna e dizer: ‘que bom, matou’. É porque seus filhos não estão lá dentro, como o meu, que está o tempo todo. E minha preocupação é que ele é negro”, disse.
O parlamentar acrescentou que sempre instruiu seus filhos a se vestirem de forma impecável, não por vaidade, mas como “uma questão de sobrevivência”.
Como desdobramento, Otoni de Paula anunciou que solicitará, por meio da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, que a Polícia Federal conduza uma investigação independente sobre o caso.
“O Estado [do Rio] não tem condições de investigar os atos que ele mesmo cometeu durante essa carnificina. É necessário ter um mínimo de autonomia investigativa”, justificou. Na quinta-feira, 30 de outubro, ele e outros parlamentares visitaram o Complexo da Penha para avaliar a situação local.
Por fim, sobre o debate em torno da operação, ele concluiu, segundo a Folha: “Esse não é um tema de esquerda ou de direita. É um tema humanitário. Infelizmente, parece ser do interesse do governador que esse tipo de discussão rasteira dominasse o debate. Não podemos permitir que isso aconteça”.

